Há dias tenho sentido essa vontade transbordante de escrever meus delírios. Parece exagero falar assim; "transbordante","delírios". Mas amiga, eu nunca sei, se isso é real, se estamos realmente tendo essa conversa, se estou acordada pensando em como seria tê-la, se estou sonhando que conversamos, ou tudo não passa de literatura.
Nessa minha busca pela cura, pela normalidade, pelo meu eu verdadeiro, o de antes de me tornar, ou me saber bipolar, esse momento antes de dormir é quando tenho minhas revelações. Tanto relacionadas com quem sou, como com as minhas relações com quem me cerca.
Te chamo de amiga, como a muitas outras. E transpareço todo esse desespero, eu sei. Sei que me olham e pensam que estou à procura de homem, ou que seja mulher, uma vítima, alguém para me curar a carência. Desde que eu pseudo-casei e pseudo-larguei tem sido assim. Foi assim com ele também. Mas você sabe, eu sei, que homem quando acham que é carente é visto como frágil e mulher é vista como desesperada.
Eu estou bem, eu tô ótima! Se eu não quero ninguém agora? É claro que eu quero! Eu quero todas aquelas pessoas que você já sabe, até as que eu falei que não queria... eu quero todo mundo... e se ninguém me quiser eu tô de boa também. Eu só não gosto como pensam que eu me resumo a isso. Àquela que pseudo-casou e vai querer casar com você, cuidado.
Às vezes sinto que não entendem o que eu fiz, muitos me perguntam se eu arrependo. Amiga, eu vou te dar um livro, que ele me deu, com uma semana de namoro. O livro chama Cartas à D., e é a história de um casal da militantes que quando a mulher morreu o marido se matou, porque não tinha nenhum sentido mais, ele idoso, sem ela. Claro que fiz um resumo muito breve. Mas é isso, esse era nosso plano. Ser simplesmente o casal mais massa que já existiu, claro que poderíamos vir depois desse do livro. Queríamos militar, mudar o mundo, fazer arte, viajar, escrever, tudo! Eu amo arte, amo música, amo ler, escrever, eramos perfeitos. Mas quando eu estava com ele, eu piorei muito da minha doença e ele não aguentava a barra, e nem era obrigado. Fui eu quem não cumpriu nossos planos.
Sobre nós duas... sinto que você não me vê assim, sinto que nenhum de seus amigos me vê assim, com raríssimas exceções. Ninguém me imagina como alguém que leia Dostoiévski, mesmo porque eu não leio mesmo, só achei que a frase ficaria bacana. Mas olha, no momento eu estou lendo Stephen King, Sun Tsu e Willam Gibson (aquela versão comemorativa de 30 anos maravilhosa que te mostrei). Por incrível que pareça fico tímida de dar minha opinião sobe qualquer assunto para vocês e assim não me acham interessante. Então sou engraçada... mas detesto tanto não ser levada à sério.
Sinto tanta atração por você que escorre pelos braços, chegando às mãos, às pontas dos dedos me fazendo querer tocar a sua nuca. Para que você, talvez, se vire. Sabe... Não sei da onde eu tirei isso. Isso de sentir isso. Sei lá, nunca me preocupei de sentir ou não algo por uma mulher. Nunca pensei que seria um problema, nunca pensei que sentiria. Mas não dizendo que eu sinta. Agora que paro para pensar nisso, não acho que seria um problema.