Queria conseguir contar nossa história aqui, de uma forma que todos entendessem a profundidade de tudo, de uma forma que pudessem ver o quão intenso foi nosso caso. Mas não consigo, parece que cada vez que penso em você tudo que passamos some e bem aos poucos vem voltando, mesmo não querendo. As vezes não consigo me lembrar, outras vezes tudo me vem tão rápido que fica difícil assimilar. Você sempre me confundiu, mas não posso acreditar, não consigo entender porque isso ainda acontece. Faz tempo que não nos falamos, sabemos que não há rancor, não temos mais pendências, ou temos? Meu medo é ter que me explicar novamente, me humilhar novamente, ou pior ter que me entregar novamente a você para que tudo enfim, acabe. Será preciso mais um erro meu? Mais uma frase feita sem graça vinda de sua boca para que, por fim, tudo se resolva?
Eu amo alguém, amo de verdade. Acho que isso é verdadeiramente amor. Mas é tão diferente, você, ele, eu. Tudo tão oposto, e complementar. Confuso. Minhas amigas falam que eu aprendi a amar, que isso é diferente, porque não tem a emoção da conquista, não tem toda aquela luta, a incerteza, nem aquele não saber se é correspondida, aquele flertar e jogar charme, é não teve. Com você sim, e posso dizer, foi inesquecível... Agora que toquei no assunto, consigo me lembrar, nosso primeiro beijo, foi assim. Numa noite de chuva como hoje, numa madrugada quente como esta, você parecia ter dois metros ao meu lado, e não saibamos por onde começar. Você me abraçou, meio que sem graça, acho que eu já sabia o que era aquilo, eu não queria acreditar. Sua mão molhado encostou no meu braço, estava gelada... e grade. Pensei ainda ter alguma saída, mas não sabia se deveria. Agora eu sei que sim. Não me lembro bem o que conversávamos, mas você com certeza se lembra, você não esquece nada. Seu cabelo estava horrível, e estava de chinelo, mas estava lindo. Sua blusa era a polo amarela, da fábrica da sua tia, impossível esquecer, quantos anos tem aquela camisa? A bermuda fez com que seus pelos da perna ficassem grudados, e você ficava a encostando na minha... Tivemos que correr para debaixo da marquize, eram duas da manhã, quem ligaria? Ficamos ali, vendo a chuva, olhando um para o outro, sem ter alguma assunto que acabasse com aquele constrangimento, na verdade teve. Acho que teve assunto até demais, ainda tem... Porque? Mas o melhor não foi a chuva, nem seu chinelo ou sua barba mal feita, o melhor foi a surpresa, o tão esperado e inesperado primeiro passo. Sempre gostei disso, das suas atitudes. E também da sua maturidade, de seu jeito nervoso de me pegar como que se me quisesse só pra você. E eu era. Apesar de você nunca ter acreditado, eu era só sua. Não pensei em outra pessoa em um momento se quer que estive com você, por mais que você insistisse em me lembrar... Não durou muito tempo, mas pareceu. Ainda parece. Na verdade foi ontem ou à uns 5 anos atrás. Agora me lembro de tudo, cada detalhe, cada um.
Me lembro de quando me puxou pelo braço no carnaval e me disse: "Só se você me der um beijo!". Foi lindo, foi excitante, do tipo que me arrepia toda só de lembrar... Você realmente queria aquilo, foi extremamente emocionante, quando te olhei nos olhos e me vi refletida naquele brilho. Era a gente, junto mais uma vez. Minha ultima chance, é. Perdida.
Não ligo, agora parece que ainda temos pendências a serem resolvidas e se resolverão, com o tempo, com o verão. É, ele tem esse poder. Pena que só dure o tempo necessário, para se tornar, mais uma vez inesquecível.
Beijos, Marcela Lopes