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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Matriz

Então é isso... essa doidera. Isso sou eu. Agora. Ao vivo. Isso sou eu. Me sinto com 15 anos de idade. Quando bebia até ser feliz... e não tomava remédios. As luzes, as vozes. Tudo é tão igual. Esta sou eu. É tão natural. Odeio os mesmos tédios, os mesmos desejos. 15 anos. Hoje. O que sobrou. O quanto vocês me beberam? O quanto eu bebi. Oi, garota. Me empresta uma nota. Você sabe que eu não gosto disso. Mas não é você que tá usando! Mas só tenho nota grande. Mas vou te devolver! Não, essa não sou eu.
Marcela Lopes

sábado, 12 de dezembro de 2015

Cofre

Queria tanto contar. Não sei porque confiam em mim. Eu não aguento segredos. Eu não suporto esses falsos sorrisos. Eu sou boa. Eu sempre achei que era má. Mas eu sou boa. Como eu queria... revelar... tudo... tudo que todos me contaram sobre si mesmos, sobre cada um de vocês. Mas vocês se escondem. E sobra pra mim segurar. E se eu contar, e se todos se odiarem e se todos se gostarem um pouco que seja a menos. A culpa vai ser minha. Não porque eu queira, não porque eu a tomaria para mim, mas porque vocês não se assumem. As culpas, as vergonhas, os erros, as pessoas, as humanidades. Vocês jogam para mim. E sou eu quem faz infriga, eu quem quer discórdia. Eu só não quero saber. Eu não quero saber se você bebeu demais e beijou a ex do seu amigo, eu não quero saber se você está transando com seu ex e com o atual, eu não quero que você me beije enquanto quem eu quero está no banheiro, eu não quero saber se você está beijando mulheres ou fazendo menages por ai. Mas eles querem. Na verdade não querem. Ninguém quer saber. Eles querem não saber. Vocês não querem saber. Vocês não querem saber nem do que vocês próprios fizeram. Fingem não se lembrar e põem a culpa na vodka. A culpa não é da vodka, é da vergonha. Ou da falta dela.

Marcela Lopes

sábado, 31 de outubro de 2015

"Cê não sabe o que é sonhar pequeno não,  meu sonho é muito menor que isso."

Guilherme Moura Soares, vulgo Dipsy.

Quando eu era adolescente, vulgo criança que achava que era adulta. Sofria porque as pessoas inventavam coisas em meu nome. Sei lá, às vezes inventavam que eu disse algo, outras inventavam que fiz/fazia coisas. Passei, a partir daí a não esconder nada. Coisa cliché de dizer, mas minha vida é um livro aberto, basta saber ler.
Agora, quando jurava ser improvável, beirando à impossibilidade. Passo pela mesma coisa. Ninguém acredita quando digo que algo que dizem sobre mim é mentira. Justo pelo fato de eu sempre confirmar, quando é verdade, tudo que me perguntam/acusam. Não sei porque ainda insistem em inventar. Não tenho nada à esconder,  não é envergonho de nada que fiz ou faço e, muito provavelmente, não me envergonharei do que virei à fazer.

Marcela Lopes

Dunada

Pessoas surgem do nada. E se eu quiser todos vocês. E eu seu ficar com todos vocês, e se eu transar e fizer sofrer o coração apaixonado de cada um de vocês. Ainda sim. Aparecerá alguém do nada, e dirá: quero me casar com você,  e se você me deixar, terei filhos com você, e formaremos família. Eu posso dizer que serei feliz com ele. Mas quem sabe não deixarei este de lado, como mais um outro. E continuarei minha vida, porque na minha vida, pessoas surgem do nada.

Marcela Lopes

Sobre minha saudade do seu cheiro de couro

Vou falar, só uma vez, para nunca mais. Fica comigo? Não vai não. Fica aqui. Mora aqui. Te sustento, te alimento, lavo suas roupas, te empresto minhas toalhas. Não vai não.  Fica para mim. Me dê esse presente. Você,  embrulhado nos lençóis,  ou com qualquer roupa que cheire couro. Mas é só essa vez, que eu digo que te quero. Depois vou continuar querendo, mas não vou dizer. Não vou dizer que penso em você dormindo, e como seu cabelo fica bem melhor bagunçado, do que quando você faz aquele topetinho tosco que esconde sua maturidade. Você nunca mais vai saber os dias que sonhei com você, e como foi horrível acordar. Você vai querer que tivesse ficado. Porque aqui tem amor, tem Coca-Cola, Netflix e tarja preta. Aqui tem todo dia, e não quando der. Aqui tem... mas você sabe.  Então só vou falar essa vez, fica comigo? Agora! Ou eu não fico mais.

Marcela Lopes

Queria ser pedra, mas nasci flor

O dia todo, cada segundo em que ninguém está olhando. Clico no seu rostinho.  Sua foto de criança loirinha e linda. E ensaio mil coisas que diria. Diria volta, diria vem, diria fica. Mas o medo do meu dizer ser em vão é tão maior que a coragem de fazê-lo, que fecho correndo, com medo que me notem, com medo que eu me note. Eu não quero ver isso. Você pode ver? O tamanho da loucura, o porque do medo, o porque do "não quero nada sério agora"?
Não sei ser pouco, não sei gostar sem morrer, não sei escrever sem me expor, me virar do avesso para que vejam que, sim. Olhem, tá aqui, o meu coração. Para, não olha tanto assim, olha mais discretamente. Ele não costuma ser visto, ele é tímido. Mas existe.
Não faz cara de dó, nem se safado, nem de ironia, muito menos de deboche.  Olha com ele com cara de pessoa. Com a sua cara! Que ele sempre gostou de ver, no breve intervalo de tempo entre você tirar meu sutiã e mergulhar em meus peitos. Aquela cara de pessoa, meio sem saber, se apaixonada ou com vontade.
Era vontade, até virar paixão. Mas isso quem disse foi meu coração, que insiste em dizer também que para você sempre foi paixão.

Marcela Lopes

Sobre deixar de ser casual

É só sexo, mas e se não for? Ai,  como você viaja pessoa. Se é só o sexo, é porque todo o resto não interessou. É porque a conversa não é esperada,  ou um whatsapp de bom dia no dia seguinte não é bem vindo.  É porque não se quer ter o trabalho de apresentar a mãe, ou "pedir a mão" ao sogro. É porque os domingos não vão ser dias de ver filmes,  abraçados,  sem trocar nenhuma palavra. Mas não, você não entende, já vimos filme, já conversamos sobre a família e seus típicos problemas, já ficamos horas conversando na Internet ao invés de trabalhar ou estudar, ou qualquer outra coisa, já tomamos banho e conversamos sobre nunca soltar pum na frente do outro, e essas virgindades que não queremos perder. Já dormimos juntos por dormir. E eu já refiz toda essa lista centenas de vezes na minha cabeça. Pessoa, não diga que é só sexo, quando sexo é uma mínima parte de tudo que são.

Marcela Lopes

Não sei gostar... e desse jeito assim sem saber, vou gostando de você. Esperando o tempo passar...  Mas venha depressa, me ensina logo esse jeito, o seu jeito, que é o jeito que eu gosto que gostem de mim. Me ensina a gostar de você, do jeito de você gostaria eu gostasse. Moço, te espero voltar dizendo que percebeu o quanto meu gosto é melhor. Assuma. Que eu assumo que menti. Que sei gostar. Que não queria gostar. Que morria de medo de gostar, assim de cara, como eu gostei. Assumo que o que eu não sei - ou melhor,  o que eu não consigo - é gostar pouco. Assume que sou eu, que eu assumo que é você. Vem que eu te digo que você me inspira a escrever (de novo) esses textos sobre gostar. Ou então só vem, que eu não faço nada, só gosto de você por mais uma noite. Vem, que se o mundo desmoronar hoje, eu estarei gostando. E se no fim não gostarmos, e não gostaremos, ainda teremos o dia que você veio e eu disse: você me ensinou que eu na verdade sabia sim gostar.

Marcela Lopes

Tom

Zé, ce tá entalado na minha garganta... Não sei se eu te engulo ou se eu te vomito. Que bonito isso, né? Uma merda, de verdade. Você me queria? Em algum momento onde eu esperei ansiosamente que você me quisesse, você me queria? Fico parecendo louca (que sou) perguntando isso, mas finjo uma normalidade tão maior que eu quando estou na sua frente que pesa. Não penso em você a cada minuto da minha existência, mas não consigo deixar de fantasiar qualquer clipe romântico quando escuto seu nome.

Marcela Lopes