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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ódio - Débora Alguma Coisa.

Cheguei hoje da praia e vi um recado de uma amiga minha falando que leu esse texto e achou a minha cara, eu concordei. Resolvi postar.


Eu tenho, você tem e eu duvido que aquele cara ajoelhado na frente do santo ou aquela mulher descalça numa ciranda espírita não tenham: ódio. Eu não sou só isso, eu não sou assim o tempo todo, eu não me baseio nisso, hoje estou melhor, mas antes eu odiava, e como. Então voltando no tempo vou fazer um relato de como eu era... Lembrando que algumas coisas ainda não mudaram!!! A cada dia eu odeio mais conscientemente, a cada ano eu odeio mais especificamente e a cada noção da vida eu odeio mais verdadeiramente.

Eu odeio que encostem o cotovelo, a bunda ou uma cerveja molhada em mim enquanto eu tento encontrar um espaço para dançar. Eu odeio que se encostem a mim porque odeio a pele de um desconhecido indesejado. Odeio homens com camisetinhas justas e colares. Odeio garotas de nariz empinado em suas calças que de tão apertadas fedem corrimento. Odeio meninas ensebadas que mexem demais no cabelo e olham para os lados com vergonha da própria existência. Odeio homens que olham para bundas como se admirassem uma carne pendurada no açougue e odeio mais ainda quando fazem bico e aquele sim com a cabeça, tipo "concordo com o mundo que ela é muito gostosa", e se ele fizer aquela chupada pra dentro do tipo "hummmmm delícia" já é algo que ultrapassa os limites do meu ódio. Bater o dedinho do pé na quina, futebol pelo rádio, mania de batuques (sim, foi para você), cigarro enquanto eu estou comendo (ou a qualquer hora), mau atendimento em restaurante (ou em qualquer lugar) e pessoas que não sabem chupar laranja ou tomar sopa sem sonoridades. Odeio quem ignora a necessidade do desodorante, do retoque na raiz preta e da hora de parar com a comida.

Odeio que faça sol se preciso de uma desculpa para não sair de casa. Odeio chuva se tenho roupas novas de verão. Odeio flanelinhas, patricinhas. Odeio mau hálito e mais ainda o fato de que justamente as pessoas que tem mau hálito são aquelas que falam mais baixo e nos obrigam a ter que chegar perto. Eu odeio machismo, submissão e mais do que tudo isso ter que ser forte o tempo todo. Eu odeio com toda a força do meu ódio o telemarketing e que me chamem de "senhora Débora" duzentas vezes por minuto. Odeio todas as meninas bonitas do ginásio que já tinham peitos e bundas naquela época e hoje provavelmente devem estar caídas e usadas. Odeio o professor Cláudio que me mandou calar a boca porque era um lixo de professor, mas queria aparecer. Odeio muito mais do que telemarketing que empurrem a minha cabeça para fazer sexo oral: a chupetinha comandada! Vai abaixar a cabeça da sua mãe, seu filho da puta! Os homens tinham que aprender logo que não precisa enfiar a língua lá no fundo e fazer aquela cara de nojo, lambe o clitóris e mostre que você sabe mais do que quem foi o campeão do Brasileirão de 89. Odeio homossexuais enrustidos que usam a desculpa "ah, eu só pego de modelo pra cima" para não pegar uma mulher.

Odeio tatuagem tribal e toques de celular personalizados. Odeio a nova moda das atrizes, modelos e manequins de tatuar a inicial do namorado da semana. Odeio bolsas Louis Vuitton, elas são feias e caras e quem usa é a típica lânguida que eu odeio, de rosto fino, cabelo fino e cérebro fino frequentadora dos shoppings finos. Odeio todas as bandas de rock que se parecem, as músicas norte americanas de hoje em dia que se parecem. Odeio ter vontade de fazer cocô logo depois que eu tomei banho. Odeio o fim do sexo com aquela lambuzeira toda {não em mim, mais nas coisas}. Odeio pessoas muito oleosas, muito peludas, muito suadas e acima de tudo meninas que cheiram a lavandas e gostam de adesivos de ursinho. Odeio bijuteria dourada mais do que qualquer telemarketing ou chupadinha comandada. Odeio brilho em vestidos... Agora, cascata de néon em formatura está acima dos meus poderes em odiar. Odeio quem comemora porque passou numa faculdade que meu primo de 8 anos passaria e quem diz "peguei a mina", "Pega no meu pau, muleque!" Odeio bolsa de couro sintético combinando com o sapato de couro sintético {se as fivelas combinarem eu posso enfartar a qualquer momento}.

Odeio os Estados Unidos, mas odeio muito mais o fato de gente que tem sangue europeu, africano ou como eu latino mas fica imitando esses estúpidos, que também têm sangue europeu, africano e latino, mas são estúpidos por herança criada. Odeio a frase "eu vou no super, comprar umas cervas para o churras". Odeio cariocas que se acham superiores só por causa da praia, mas vêm ganhar dinheiro aqui. Odeio cariocas que se acham fodas porque já saíram com alguma atriz da Globo e todos já saíram. Odeio a vontade que eu sinto de rebolar quando escuto aquela imbecil da Britney Spears, odeio ter chorado no Titanic e odeio assistir Celebrity Profile pra saber o que a Pamela Anderson faz além de ter dor nas costas {porque não deve ser fácil carregar duas jacas diariamente}, mas eu assisto. Odeio quem chega em casa depois de uns malhos no carro e enfia o dedo no meio das pernas porque tava louca para dar, mas "ele ia me achar muito fácil", mas eu também odeio mulher que sai dando pra meio mundo e perde o mistério. Sei lá, essa coisa toda de dar vai ser sempre uma dúvida e eu odeio dúvidas. Odeio meninas caçadoras de homens ricos, mas sair com um cara que está tentando começar um relacionamento e ter que rachar a conta é foda, sempre achei mais simpático me deixar pagar a conta toda. Rachar é péssimo!!!

Prefiro virar a cara, prefiro cuspir, prefiro odiar, quando eu era criança sonhava todas as noites que arrancava os olhos de todo mundo e só eu podia enxergar o quanto era feio eu ser como sou.



Beijos, Marcela Lopes.

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