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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pseudônimo Agenor.

PRIMEIRA PARTE

 Pronto. Eu definitivamente estou pronta e não posso mais mexer nem na minha maquiagem, nem no meu cabelo. Estou arrumando desde as 20h e já são 23h. Preciso sair de casa agora antes que fiquei perigoso demais andar até a praça sozinha. Eu nunca fui nesse bar novo, Camaleão o nome. Nunca entendi o porque desse nome. Dizem que lá está lotando. Tenho um pouco de medo, o que e quem será que vou encontrar por lá? O fato é que ele está me esperando... Que absurdo! Quem imaginaria eu sair de BH só para vir encontrar com ele em Bí. Essa cidade é mesmo minha perdição.
 Saio. Fico imaginando se não vou ficar mais alta que ele de salto... Eu não consigo me lembrar da sua altura. Ele é lindo. De fato ele é lindo. O caminho até meu destino é curto, mas tenho tempo de pensar em cada detalhe das nossas madrugadas conversando pelo facebook. Por um momento, em um devaneio besta me pego imaginando ele me desenhando nua, como a Kate e o coração no Titanic. Rio sozinha da minha viagem. Ele é um artista. Talvez eu também seja, do meu jeito. Espero ansiosamente que ele seja bom em tudo que faz com as mãos. Ele é, eu sei que é. 
 Já consigo ouvir a música. É sertanejo, claro. Irônico porque achei que ele odiasse sertanejo como eu, acho que ele se acostumou... O som das pessoas conversando. Como as pessoas gritam nessa cidade. Diminuo o ritmo das passadas. Nãos quero chegar lá como se estivesse ansiosa para chegar, apesar de estar e muito. Quero que ele me veja casualmente. Quero que pareça que não estou a procura. Eu contei a ele que sou míope? Talvez passe direto por ele e ele pense que é doce meu. Isso sempre acontece. 
 Viro a esquina. A ultima. Tem várias mesas vermelhas espalhas pelo passeio dos dois lados da rua. Devem ser da Brahma. Meu Deus. Só agora parei para pensar em como vou chegar para conversar com ele. Claro, ele é tímido demais para puxar papo comigo. Eu devia ter vindo mais devagar ainda. Eu devia ter pensado nisso antes de sair de BH. Acho que não tenho nenhum assunto com ele que não seja a minha vontade ter ele para mim. Eu devia aprender a falar menos. Eu me coloco nessas situações.
 Imagino se devo cumprimentá-lo com um abraço, um beijo na bochecha, um tchauzinho ou se já posso chegar beijando ele. Confesso que a minha vontade era essa. Eu ainda não o vi. Melhor, posso pensar enquanto isso. Parece que não chego nunca e ao mesmo tempo aprece que estou correndo. Eu realmente queria chegar beijando ele. Acho que queria mostrar para ele e para todo mundo o meu poder. Mas não. Eu tenho que fazer um charme. Não para parecer santinha, ele sabe que não sou. Todo mundo sabe. Mas preciso mantê-lo interessado. Tomara que ele não venha conversar comigo sobre Nirvana... Não quero conversar com ele sobre um assunto que ele domine mais do que eu. Preciso me manter por cima. Eu gosto disso. Ao mesmo tempo, o medo de que ele me deixe vulnerável me excita. Eu sei, eu disse a ele, eu gosto de comandar, eu gosto das coisas do meu jeito, mas é que me prende é ousadia. Ele não pode saber que para me prender tem que me controlar. Se ele começa a me controlar acho que gozo. Já estou com vontade. E agora? Como vou me segurar para não parecer fácil?
 Fico um pouco insegura. E se ele me achar fácil demais e perder o interesse. E se ele for tipo o Alex? O menino que fui beijar e disse que eu era fácil demais. Agora sou impossível para ele. Não quero ser impossível mais uma vez. Eu quero que ele me ache impossível sem eu ser. Igual ele achava quando estávamos no Ensino Médio. RS. Dou um sorriso. Um cara olha para mim e sorri também. Eu paro na hora. Esse sorriso definitivamente não foi para ele. Continuo andando como quem não quer nada, mas com a cabeça erguida, tentando parecer superior. De certa forma sou melhor que algumas almas podres dessa cidade. Paro no caixa. Minha vontade era de misturar catuaba com pinga. Mas peço uma cerveja mesmo. É de garrafa. Viro um copo rapidamente e o encho de novo. Agora sim, me sinto preparada para encara-lo. Só não faço ideia de onde ele esteja.
 Volto a andar. Pareço um pouco perdida e sei disso. Onde será que está a minha turma, para eu poder me apoiar neles. Meu pé dói um pouco. Andar por aqui é bem diferente de andar em BH. Tenho medo de virar o pé e cair. Estou sentindo calor, eu não devia tar passado creme nas minhas pernas. Mas ele tem brilho, não pude resistir. Eu estou muito cheirosa e fico imaginando qual será o cheiro dele. Do cheiro passo a imaginar ele pelado. Como posso só pensar nisso? Ele é loiro. Nunca fiquei com nenhum loiro eu acho. De fato não é muito a minha praia. Meu pé dói bastante e volto a pensar que posso ficar mais alta que ele. Porque isso me incomoda tanto? Acho que me acostumei com o meu ex. OPA. Meu celular vibra. É UM SMS. Agora é meu coração e todo resto do meu corpo que vibra. Leio.

 Passou por mim e nem me viu, rs.

 Droga! Sabia que isso ia acontecer... Sempre acontece. Penso em responder mas não acho uma resposta que fiquei formar e excitante ao mesmo tempo. Só queria uma amiga minha para poder perguntar como estou. Preciso de autoafirmação nesse minuto.
 Alguém me grita. Claro que não é ele, ele não teria essa audácia. É um colega dele, eu gosto desse colega dele. Eu já até fiquei com ele, mas não sei se isso já foi comentado na roda. Claro que não vou ser eu a comentar, rs. Sorrio de novo. Estou um pouco nervosa. O meu medo de tropeçar e cair mais que dobrou. Acho que corro seriamente esse risco. Na minha cabeça a frase: "vai com calma" se repete sem nenhum pouco de calma. Estou eufórica. Quero mesmo uma amiga para me apoiar. Vou chegar lá. Vou cumprimentar à todos com um beijo na bochecha (decidido!) e depois vou fazer o que? Vou ficar lá parada como um dois de paus? Até parece que sou da roça, que não sei conversar. Eu sei, só não consigo imaginar o que falar para ele. Chego. Não cai. Dou um suspiro de alívio.
 Ele me olha com um olhar safado, diga-se de passagem. Acho que ele tenta entender que suspiro foi aquele. Lembrei o nome do colega dele! Ainda bem. Dei um beijo na bochecha de cada um. Praticamente não conheço ninguém ali. Uma palavra para definir meu sentimento: deslocada. Olho para ele. Ele sorri, solta um risinho. Foi mais fácil do que eu imaginava.

 - Tá rindo de mim? - Fiz a pergunta mais óbvia que eu poderia fazer para puxar assunto.
 - Sim! - Ele fala com um jeito de quem ainda não parou de rir. - Você parece meio perdida.
 - E eu estou. Mas vamos fingir que está tudo bem. - Eu falo tentando continuar com a graça da situação. Fazer graça é meu escudo, com certeza.
 - Cadê suas amigas? - Ele pergunta sem demonstrar qualquer coisa que eu posso explicar.
 - Também não sei... Elas são enroladas demais, deve que ainda nem estão prontas! - Eu devia ter pensado antes de falar. Não deixei nenhuma brecha para ele continuar o assunto. Se ele fala: "Éé..." eu tô perdida!
 - Sei... - Pronto, ele diz uma coisa mais difícil de responder do que o "Éé...".
 Dou um sorrisinho e abaixo a cabeça sem graça. 

CONTINUA... 

Marcela Lopes

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